segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Parênteses - O Amargo santo da Purificação Invade Porto Velho*

“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi”.
Walter Benjamin.


Nada para esconder, tudo mostrado de forma clara e transparente no meio da rua sem a opressão de forças militarizadas. Uma comunhão dos atuadores da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul e o público de Porto Velho, formado por pessoas comuns: crianças, jovens e adultos (muitos deles que viveram o período da repressão), que observavam atentas dos dois lados da Rua Barrão do Rio Branco (em frente à Praça Jonatas Pedrosa). Choro, arrepios, emoções e lembranças apimentadas pela “fé cênica”, pela estética e pelo zelo dramatúrgico. Um presente para os portovelhenses e para a democracia.

Foi um sonho de liberdade ver o grito de Marighella ser entoado pela rua. A política e a poética dita de forma livre, pelas palavras, pelas músicas e pelas ações, composta por cores, pelas formas, pelas certezas e pela força do desejo de liberdade. “Eu quero é rosetar...” e nós também. Outra observação que merece ser bastante evidenciada é a força dos atuadores (atores): uma representação divinal, com firmeza e presença cênica. Encantou-nos e deu um brilho especial nos nossos olhos.

Tudo colocado de forma magistral: a voz, o movimento, a presença e a ação no espaço. Ficamos embriagados e contagiados pelas cenas, pelas verdades e pelas lembranças cravadas nas nossas próprias almas. Tudo registrado pelas retinas dos olhos atentos como num filme que mostra as atrocidades vividas no passado, as certezas do presente e os sonhos do futuro. Uma aula de história, com a beleza da arte.

Viva a ação e a invasão dos atuadores do Ói Nóis Aqui Traveiz e que os Deuses digam amém e todos os Santos sejam purificados.

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* Texto de autoria de Chicão Santos - ator e diretor do O Imaginário

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