sábado, 4 de setembro de 2010

Parênteses - Conceição / Sentindo a Arte*

Sentindo a Arte


Em alguns lugares o mês de setembro é esperado pela chegada da primavera. Em Porto Velho, já há algum tempo, setembro é esperado por ser o mês do Festival Palco Giratório, maior festival de artes cênicas do país, realizado em vários estados brasileiros. Na região norte, o festival é realizado apenas em Porto Velho. São trinta dias ininterruptos de arte. Podemos literalmente, comer teatro. O diferencial deste festival é sua amplitude de linguagens cênicas, indo do drama a comédia e trazendo a cena portovelhense espetáculos de dança contemporânea.
O espetáculo “Conceição” apresentado na última sexta feira foi um presente para o público ainda não iniciado em dança contemporânea. Ao término do espetáculo pude ver alguns espectadores, maravilhados e intrigados, falando da dificuldade em compreender um espetáculo de dança, pois a “história” não é contada como no teatro, não tem uma narrativa linear e por isso causa incômodo e deixa dúvidas.

Pois bem, “Conceição” é um presente para todos os espectadores, habituados ou não, com a linguagem da dança. Trabalhado tecnicamente em seus mínimos detalhes, “Conceição” é um retrato dos festejos realizados no morro de Nossa Senhora da Conceição, em Recife, lugar de origem do grupo. Não importa se você não conhece as tradições do local, porque o espetáculo consegue ser universal, exatamente porque os artistas mostram sua “aldeia”.
O cenário nos traz as fitas, rendas e fuxicos, tão comuns nos oratórios e procissões dos santos católicos. A religiosidade se faz presente de forma sutil, envolvendo os casebres do morro sem desprezar o sincretismo de um povo que reza e dança maracatu. Sagrado e profano indivisíveis e complementares.
A iluminação muitíssimo bem trabalhada dá o tom emocional do espetáculo, é magia que cobre os corpos dos bailarinos num jogo de luz e sombra perfeitamente coreografado.
Os corpos dos bailarinos são límpidos, telas que apresentam as cores de uma coreografia forte e exigente, marcada milimetricamente pela diretora Mônica Lira.
“Conceição” é uma festa para os sentidos, faz nossos olhos se encherem de volúpia e respeito. Entender? Muitos já disseram por aí que arte não é para ser entendida, rotulada, classificada, então, vamos sentir!

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*O texto é de autoria de Mariangela Onofre - psicóloga, bailarina e coreógrafa.
Foto: Divulgação/Sesc/RO

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