quinta-feira, 4 de julho de 2013

Efeito Kiss salva artistas portovelhenses do complexo de vira-lata


Por Antônio Serpa do Amaral Filho

O Corpo de Bombeiros de Porto Velho acabou prestando relevante serviço à cultura da capital nesse último final de semana: deu parecer negativo sobre as condições de segurança no Clube Ypiranga, local onde iria acontecer, sábado, dia 29, o chamado Caldeirão Cultural, um encontro de artistas organizado pela Fundação Cultural. A idéia macabra padece de gritante incoerência. Realizam Seminário sobre a problemática cultural num dia e no outro colocam artistas de elevado nível de qualidade num péssimo espaço cênico, tido pelo povo em geral como uma pocilga infestada de pulgas e baratas. Enquanto a comunidade vai às ruas gritar por saúde, educação, cultura e segurança, aos olhos de todos e da imprensa, um segmento da comunidade artística aceita ser tratado como vira-lata, agindo de forma alienada e autômata, como se não fossem eles o espelho de onde emanam as melhores sensibilidades que cultivamos no espírito.

Se o projeto tivesse sido realizado, seria um desastre em dois sentidos: primeiro, porque representaria o aceite resignado do complexo de vira-lata que ronda o espírito da comunidade artística local e, segundo, porque, se de fato conseguisse atrair um grande público para aquele ambiente, ofereceria sérios riscos à segurança dos frequentadores. O vira-latismo é tanto que, em nível estadual, Confucio Moura nada de braçada em cima dos produtores de arte, que prometeram fazer uma Revolução Cultural e o máximo que conseguiram foi soltar dois mirrados peidos de velha no gabinete do governador, não fazendo nem cosquinha nos carapanãs que habitam o escritório do chefe do executivo estadual. Com todo respeito à tradicionalidade do Velho Leão Azul, fundado em 1919 e cinco vezes campeão de futebol em Rondônia, aquilo é uma espelunca de quinta categoria, um lugar desqualificado, desestruturado, feio e jogado às traças por falta de amor próprio também dos leoninos e da sua atual diretoria. Aquele lugar, hoje, nem de longe lembra os tempos áureos do glorioso Ypiranga de Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha. Das glórias do passado restou, na Rua Pinheiro Machado, um cafofo mal ajambrado, decadente e com péssima imagem social, sendo o mais pobre e horrendo local do corredor de entretenimento da capital, denominado “Calçada da Fama”.

No Amazonas, quando um projeto governamental quer prestigiar e dar visibilidade a uma determinada produção cultural, os gestores mostram o espetáculo no Teatro Amazonas ou no Estúdio 5, com direito a mídia, infraestrutura de primeira qualidade e glamour. Aqui a Funcultural tira os artistas do Mercado Cultural, local que tem um mínimo de decência, e tenta apresentá-los no desbotado Ypiranga. E o pior: eles aceitam unanimemente. E como toda unanimidade é burra, no dizer de Nélson Rodrigues, então a burrice avassaladora acaba contaminando a todos, como uma peste da miserabilidade político-cultural. Com o incêndio naquela boate de Santa Maria/RS, ainda bem que o efeito Kiss levou nosso glorioso Corpo de Bombeiros ao local onde iria acontecer o desastre cultural e aí, sem querer, os combatentes do fogo salvaram vários artistas da vivência do complexo de vira-lata. 

O prefeito Mauro Nazif, embora culturalmente medíocre, está bem assessorado com a secretária Jória Lima. Ela, sim, é que parece estar carecendo de visão crítico-histórica e de melhores quadros na sua assessoria, na Funcultural. Enquanto o Brasil acorda nas ruas, alguns dos nossos melhores artistas dormem em berço esplêndido canino, como cachorros sem dono!

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