sábado, 2 de julho de 2011

TPM - AS MÃES NÃO ESQUECEM, por Neusa Tezzari


Hoje sei que não posso jamais mensurar as dores de quem perde um filho ou uma filha vítimas da violência urbana; sei que ter um filho assassinado, atropelado causa dores que não se curam jamais.

E sei disso porque vivi a terrível experiência de ver minha filha sendo agredida, desrespeitada e violentada, mesmo que não tenham lhe tocado o corpo, mesmo quando não chegaram a tocar em um só fio de cabelo seu.

Sou professora da Universidade Federal de Rondônia. Tenho sido orientadora de trabalhos de conclusão de cursos de graduação, de artigos de finalização de cursos de pós graduação lato sensu e, desde 2009, oriento mestrandos do MAPSI – Mestrado Acadêmico em Psicologia da UNIR.

Deste modo, posso falar, com conhecimento de causa, do trabalho delicado que é orientar o desenvolvimento de pesquisas bem como a escrita do relatório final. É um trabalho que exige delicadeza no trato com o outro, segurança para lidar com as incertezas e inseguranças deste profissional em formação.

Posso também lamentar que, apesar de dar um tratamento delicado e inclusivo aos meus orientandos, isso não garanta o acesso dos meus filhos a tratamento igual.

O orientador é um aliado, é um parceiro de jornada que, sendo sério, ao enviar o trabalho para a banca, se sente tão julgado quanto o orientando. Não é e não deveria poder ser o algoz, aquele que monta uma armadilha para pegar seu orientando, num jogo que oprime e desumaniza a todos. Se há problemas no texto, ele os aponta anteriormente e os ajuda a saná-los.

A violência sofrida pelos filhos dói de qualquer forma, mas, quando a presenciamos, ela se inscreve no nosso corpo, invade nossa alma.

Silenciei nos dias que se seguiram à agressão.

Silenciei na sexta-feira à noite.

Silenciei no sábado.

Não pude comer.

Estava ainda sem conceber o fato de que não há limites para o que um homem pode fazer a outro homem. De que não há limites para a inveja humana, para o ressentimento e para o sentimento de baixa auto-estima que animaliza e entorpece.

No domingo, rompi o silêncio com um choro sentido, profundo. Pude, então racionalizar, falar, entender que a minha dor tinha a ver com a perplexidade, com o fato de não acreditar no que havia acontecido.

Com as palavras, veio a vontade de me alimentar novamente. Veio, também, a certeza de que não podemos combater a desumanização com a barbárie, sob pena de nos tornarmos iguais aos que combatemos.

Há justiça neste país e, apesar da franca impunidade que nos cerca, é preciso que sigamos pelas vias legais.

Sou partidária de que há uma lei a nos governar a vida: ação e reação. Há pessoas que preferem traduzir tal lei da seguinte maneira: Aqui se faz, aqui se paga.

De qualquer modo, vou fazer o que se espera das mães e dos pais: vou defender a minha cria.

Porém, sei que não há defesa que dê conta de apagar o que senti naquele dia nem o que venho sentindo posteriormente. Nós, mães, somos como os elefantes – não esquecemos jamais.

Então, não se esqueça, também, aquele que desejar ferir filhos e filhas: as mães não esquecem jamais.

Se há uma intenção de machucar alguém, verifique primeiro se eles têm mãe. Se tiverem, posso dar um conselho? Nem tente!.


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*Texto de Neusa Tezzari - Professora e mãe

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