domingo, 5 de setembro de 2010

Parênteses - A doce experiência de ver um ‘Amargo Santo’*

Emoção, lágrimas e lembranças eram expressões que podiam ser vistas e lidas nos rostos dos espectadores que pararam na praça Jonatas Pedrosa, na tarde de sábado, para ver o espetáculo “O Amargo Santo da Purificação”, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul.


Até mesmo a chuva que ameaçava cair desistiu de atrapalhar a superprodução gaúcha para o teatro de rua trazido a Porto Velho pelo Palco Giratório do Sesc. De forma leve, mas contundente, o espetáculo de rua mostrou parte da nossa história recente e de uma maneira que não estamos acostumados, pois nos bancos de escola nos contam outras verdades.

Sem rodeios ou meios termos, o texto nos remete aos períodos mais macabros do século passado, quando além do Estado Novo amargamos também mais de 20 anos de uma severa e cruel ditadura militar. Sem muito esforço era possível se imaginar nas ruas no meio de um protesto popular no fatídico e tenebroso ano de 1968.


O espetáculo parece fácil, mas não é. Pois retratou de forma incisiva um dos maiores nomes da política do Rio Grande do Sul que, para muitos se disfarçava de popular e ‘pai dos pobres’, mas para outros nada mais era que um ditador tão sanguinário quanto os militares que vieram depois. Getúlio Vargas é apresentado ao público sem as maquiagens que as autoridades e ‘cabeças pensantes’ do país sempre fizeram questão de usar para falar do presidente “que deixou a vida para entrar para a história”.

O tema principal era contar a vida de mais um brasileiro que se tornou mártir na luta por um Brasil livre. Carlos Marighela, perseguido, preso e morto covardemente serviu como exemplo para retratar um momento que não podemos esquecer, mas sim relembrar e brigar muito para que não volte.

Nos rostos, que acompanhavam atentos os passos e cores do espetáculo, podíamos ver uma mistura de sentimentos que iam da pura admiração pela arte até a surpresa por ver nas ruas de Porto Velho, em pleno período eleitoral, uma peça teatral com uma temática tão forte e expressiva.

Sem a pretensão de uma crítica de teatro, me concentrei no espetáculo como cidadã e amante de toda a forma de expressão artística. E foi assim que a emoção bateu mais forte ao ouvir o famigerado AI 5 (Ato Institucional número 5), que nada mais era que o silenciar de um povo em nome das vontades de meia dúzias de verdes homens com estrelas nos ombros.

Para quem vive o dia a dia da luta pelo livre direito de expressão é doloroso lembrar que muitos morreram por essa liberdade que até hoje não aprendemos a usar. O grito pela liberdade foi mais forte e o espetáculo terminou com dezenas de pessoas emocionadas pela arte e pela história e isto é o teatro. Simples assim.

Em um espaço fechado ou na rua. Em um monólogo ou em uma superprodução. É teatro e isto faz bem a alma, pois pensar, refletir e agir é fundamental para a evolução do homem.


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*Texto de autoria de Rose Viegas - jornalista e amante da arte.

Fotos: Moisés Costa

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