As letras da banda são outro forte, atravessam o ser político com os versos “Democracia modelada de um lado, do outro demolida” de DemoEGOcracia e vão de encontro ao humano que se sente tiranizado pela hipocrisia da atual política “Eu já discuti Heráclito e Demócrito/e já nem sei se rio ou se choro/ou se demonstro o monstro da hipocrisia/essa monótona demagogia só é menor que a minha ironia” e se coloca frente a esse monstro sem face e sem coração com o coração puro, o poeta não se entrega às forças, antes disso, usa-as para torturar o mundo com a inocência. Como em “Se minha sombra falasse” onde o poeta/cantor usa a repetição, que soa como cantiga infantil e como o correr de um relógio, estando ele na métrica temporal do relógio/máquina e ao mesmo tempo arquitetando uma revanche ao Capital “Quando escurece/você desaparece parece”, a música poderia ser uma canção de adeus a inocência se não fosse o refrão “Sou fã do Peter Pan! “ repetido em um sibilar com vozes ecoando. Caiu a máscara do mundo, mas a inocência, ou ainda, a visão da criança, a poesia jovem e enérgica, se mantém agora unida a um gosto e um desgosto que entoam toda a visão de um mundo pós-destruição, um mundo “loco-oco”, um lugar onde o “The day after” reflete o saber da crueldade e a coragem de afirmá-lo e a poesia simples retorna, não menos triunfal, nos versos do poeta Binho musicados pela banda: “Acordei/Mais velho/que o evangelho”. Fechando os opostos, meio que para afirmar a luta transversal, pois que são tocados várias questões humanas e não só o politico “Procura-se/alguém que possa ir além/do seu umbigo “.
A poesia na Soda Acústica assume o nível humano, é cáustica sem ser demasiado política e ressoa no espaço acústico da alma, das perguntas humanas. Com um time seleto de artistas regionais o grupo mostrou com quantos botos se fazem um rio madeira, poesia de primeira, música ousada e arte no mais refinado nível.
Foi no ônibus para Rio Branco que tomei contato com André, guitarrista da banda, depois de uma longa conversa sobre efeitos e guitarras, ganhei um cd da banda. Produzido e prensado com apoio do projeto Pixinguinha da Funarte, o lance de autogestão, idéia bem comum às bandas independentes sendo que os caras fizeram uma turnê pelo estado divulgando seu Álbum. Além disso, eles também possuem uma parceria com um grupo de artes visuais que criaram as artes do álbum, conhecido como ACME, um sucesso entre os acadêmicos da UNIR (me incluindo nessa turma) formado por um grupo de intelectuais que causou grande furor e movimentou a cena artística na capital há alguns anos. Como de (péssimo) hábito eu perdi o show da banda em Rio Branco devido a reunião do FDE ter se estendido um pouco, a única de Rondônia representada no Festival Varadouro, infelizmente a primeira do primeiro dia. Embora desapontado por ter perdido o show, voltei feliz por conhecer mais profundamente uma banda sólida do meu estado, saber dos seus “corres” e aprender sobre minha cidade. Pra fechar um trecho de “tédio” que reflete a visão de mundo expressa no álbum que em poucos versos vai do espanto a ação criadora, o que está um pouco em falta na nossa terra: “Nêga/por que tá tudo assim tão sério/o que aconteceu neste século/porque tanto grilo, tanto mistério/Nêga/diz pra mim qual é o remédio/pra ver se me ligo/pra ver se me intero/putaquipariu qui tédiu”.
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