quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Parênteses - Povo sem voz, tem vez? (ou: é cada uma que aparece...)


Então, ontem estive no Sesc/Esplanada para conferir a Mostra de filmes (muuuuuuuito boa) e participar do Laboratório do Escritor, com o baiano Antonio Torres, ambos os eventos do Banco do Brasil. Confesso que ainda não havia tido notícias daquele escritor mas, após umas pesquisas na Internet fui convencida a conferir o Projeto, que propunha fazer 40 perguntas a ele sobre o processo criativo de seus livros. Portanto, considerando o cretino ‘não conheço, não li e não gostei’ (mas, vai entrar na minha lista de leitura. rsrs) me atrevo a uns comentários que ficaram martelando, martelando, nessa minha cabecinha-de-vento. Lá vai:
Logo na primeira pergunta já temos uma parcial de como se dará o processo: o entrevistado literalmente ‘viaja’ pra poder responder algo do tipo: “como o sr. virou escritor?” Juro que tive a inocência de acreditar que essa pergunta seria ignorada. Porém....porém... tsc, tsc
À parte a embromação nas respostas, a cara da entrevistadora era o máximo... Algo do tipo: “Ai que saco! Custa responder direto?”. E juro que as expressões dela prenderam muito mais a minha atenção do que o relato lírico (quase Naturalista de tão detalhista!) do ‘tiozinho’ permeado de evocações à Castro Alves (Jesus!) rsrsrs.
Daí, você pode pensar “hum... então ele só falou besteira?!”. Não! Não, não. Não...
Pois, bem quando eu tentava novamente me enforcar com a alça da bolsa, ele começou a dar umas informações muito importantes (pena que terminaram como frases soltas no meio da epopéia que ele narrava): falou-me sobre a história de Cunhambebe (pesquisem); incentivou a platéia ao plágio e se vangloriou de ser um plagiador descarado, que tem passado a perna nos críticos literários; fez considerações bacanas a respeito do Modernismo; divagou sobre a dificuldade de posicionamento crítico na qual estamos atolados. Valeu, Sr. Antonio! \o/ uhulll... Mas, o ponto alto foi quando começou a falar sobre o papel das editoras locais para o fortalecimento das produções locais e da importância de trocas entre os escritores. Bacana, Sr. Antonio!
Agora, eu chego à apunhalada da noite: as perguntas da platéia. É. Esse foi um daqueles momentos em que a gente fica pensando: “Jeeeeesus! Eu não acredito no que ouço!” E sabe por quê? Porque eu tive de ouvir do Sr. Presidente da Academia Rondoniense de Letras que ‘a Universidade Federal de Rondônia (mais especificamente sua editora) não valoriza os escritores locais’ e privilegia a indicação de obras de outros escritores brasileiros para o vestibular da Universidade. O que ele deixou implícito que é um absurdo... (pensando num contexto geral, é mesmo. Mas, no nosso contexto, é diferente. Pelo menos, pra mim). Geeeente, ele estava indignado. De uma forma contida, sem gritos, alterações e coisas do tipo. Mas, estava... Ora, Sr. Presidente, indignada estou eu, que tive de ouvir isso. Antes de o Sr. subir ao palco para fazer suas considerações poderia ter pensado, lá mesmo do seu gabinete (que não sei se é assim que chamam...) ou mesmo da sala da sua casa, nos seguintes questionamentos:
A classe que o Sr. representa tem feito exatamente o que para (mere)ser devidamente valorizada?
De quem é a obrigação de buscar estratégias para valorizar uma produção, seja ela artística ou não; é de quem produz, dos potenciais consumidores ou mesmo do maldito Governo?
Alguém, por favor, me corrija se eu estiver errada. Mas, salvo 3 ou a insanos que ousam publicar textos pelo mundo afora (e acho dispensável aqui citar nomes) o que a sua classe têm publicado/documentado por aí (e não me refiro ao livros que o Sr. tanto reclamou que não são publicados)? Cadê voz de vocês sobre o que tem/está acontecendo no meio cultural da nossa cidade (não ouso nem questionar quanto ao Estado)?
Cadê a participação de vocês, enquanto classe, nos seminários/eventos e blábláblás que têm acontecido por aqui? Ou será que a classe compartilha da sua mesma idéia: ‘só participo desses eventos se eu for convidado”. Aliás, que o compromisso intelectual é esse, que só se faz presente se estiver devidamente documentado, protocolado? Ou será que ainda vivemos numa selva fechada, isolada sem meios de comunicação ou mesmo numa cidade tão grande onde tudo é inacessível e, mais, onde ninguém se conhece nem tem a iniciativa de fazer uma simples informação circular?
Então, vamos lá. Continuemos assim: de umbigo para umbigo pra ver no que é que dá! Ignorando o suor à espera dos aplausos. Continuemos, então, caminhando acorrentados na carroça.
Quem sabe, depois, a gente tenha um final glorioso como o daquela obra de arte (http://www.overmundo.com.br/banco/cao-morre-de-fome-em-nome-da-arte) que morreu acorrentada e babando, sedenta por um prato de comida que não podia alcançar. Embora, acredito eu, ambos se enxergassem.

p.s.: Acredito ser uma informação desnecessária. Entretanto, do jeito que o mundo anda (ou melhor, que temos andado pelo mundo) fica aqui a informação: nada pessoal contra os senhores citados, são apenas umas bobagens que a gente pensa... E, aproveito para me desculpar caso haja alguma coisa sendo executada e eu não esteja sabendo. E, se houver, por favor, nos envie um sinal de fumaça que postaremos com o maior prazer!

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