Após um mês de programação artística e cultural totalmente gratuita, voltada para o público rondoniense de todas as idades, o Festival Palco Giratório do Sesc encerrou sua temporada neste final de semana, com mais de 10 espetáculos, contando ainda com um encontro épico entre dois nomes do teatro nacional, Amir Haddad e Ilo Krugli e suas companhias, Tá na Rua e Ventoforte.
No último dia de festival, Amir e Ilo bateram um papo descontraído com artistas e simpatizantes do teatro, durante o Pensamento Giratório, onde falaram sobre suas experiências no teatro de rua e infanto juvenil, transitando ainda pela questão da politização e também da democratização do teatro, levando a arte à todos os espaços e públicos.
Vindos de Vilhena, os atores Elieldo Alves Paz e Valdete Sousa, dos grupo de teatro Wankabuki, enfrentaram mais de 12 horas de viagem de ônibus para acompanhar o último dia de programação, em especial o encontro histórico entre Amir Haddad e Ilho Krugli. “Uma discussão dessa, com estes dois grandes nomes do teatro no país para um grupo de teatro como o nosso, que está começando, traz pra gente uma contruibuição muito grande como ator, falando com simplicidade de assuntos tão complexos”, diz Valdete.
Para os atores, o encontro foi uma chance única de estar perto das duas referências do teatro nacional. “Aqui em Rondônia, acho difícil de novo, por isso fizemos o possível para vir”, finaliza Elieldo.
Dando continuidade a programação de encerramento, o Complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi palco de quatro espetáculo: As Aventuras de Uma Viúva Alucinada, da Cia Mamulengo de Cheiroso (SE); As Quatro Chaves, Ventoforte (SP); Para que Servem os Pobres, Tá na Rua (RJ); e Hospital da Gente, Grupo Clariô (SP).
Festival
Pelo 5° ano consecutivo, Rondônia, o único estado da Região Norte a realizar o Palco Giratório em formato de festival, recebeu o maior evento das artes cênicas do Brasil. De 1 a 29 de setembro, a população pôde prestigiar uma programação múltipla de diferentes linguagens artísticas, como teatro, circo e dança de forma totalmente gratuita.
Nesta edição, além da capital, os municípios de Ariquemes, Ji-Paraná, Nova Mamoré, Presidente Médici e Vilhena também receberam os espetáculos do festival.
Durante todo o mês, o intercâmbio de experiências artísticas fluiu muito bem. Artistas inseridos no circuito nacional do Palco Giratório vieram ao estado de Rondônia para ministrar oficina, fazer intervenções urbanas e participar de subestações – pequenas performances intimistas após os espetáculos – e atenderam aos profissionais locais, em bate-papos descontraídos e informais, que também contou com a presença de grande parte dos espectadores das peças.
Apresentações lotadas
Após apresentar “A pereira da tia Miséria”, com a plateia aplaudindo em pé, Rogério Costa, ator do grupo, destacou que nunca havia se apresentado para um público tão grande. “É gratificante para um artista ter uma plateia ampla como esta. Todo artista que sabe deste lugar sonha em se apresentar aqui. Porto Velho se tornou um grande palco para todas as companhias de teatro de rua”, disse emocionado.
A atriz Cláudia Ventura, que esteve em cena com “Amor confesso” e dirigiu “A nova ordem das coisas”, que contou com sessão extra, sentiu o aumento do público em relação às participações anteriores. “Foi gratificante receber a notícia da produção do Sesc Rondônia, que, antes mesmo de começar a primeira apresentação, já tinha a segunda sessão fechada”, comenta ela, que, pela segunda vez em Porto Velho, afirma ter se surpreendido com a evolução do festival e do público, que tem comparecido cada vez mais ao teatro.
Edna Samáira, 27 anos, é frequentadora assídua do Palco Giratório desde sua primeira edição, em 2008. Ela atesta o crescimento do público em eventos culturais, principalmente no festival. “Agora é comum que muitos espetáculos tenham segundas sessões. Antigamente só lotava dessa forma a partir da segunda quinzena do mês. Acho que isso deve-se ao boca-a-boca do povo que compareceu as primeiras vezes, viu que toda a programação era gratuita e com espetáculos de qualidade e espalhou; e também a estratégia de comunicação montada pelo Sesc Rondônia, que atualmente vai além do outdoor e programação no site”, diz.
Somando-se todos os dias de Palco Giratório e suas apresentações, é possível perceber o quanto a população tem prestigiado e comparecido aos espetáculos. Em um único dia, quatro peças chegaram a ser apresentadas, distribuídas em vários locais da cidade, mas sempre com plateia presente e casa lotada. Ao todo 30 mil pessoas compareceram ao teatro durante os 29 dias de festival.
Teatro para todos os públicos
Repetindo a ação de sucesso da edição anterior, o Palco Giratório buscou mais uma vez promover o acesso à arte por todos os públicos, e apresentou sete espetáculos com tradução simultânea na Língua Brasileira de Sinais (Libras), possibilitando a inclusão de surdos em sua programação.
“Com o resultado positivo, o Sesc Rondônia repete o projeto, buscando cada vez mais promover o acesso à arte para um público que, muitas vezes, acaba esquecido nas programações artísticas e culturais do município”, acredita o presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac, Raniery Coelho.
Além disso, o Sesc Rondônia levou os espetáculos a quem não pôde comparecer ao teatro. Para isso, criou a programação especial com apresentações em escolas, hospitais, comunidades e no Presídio Feminino de Porto Velho.
Para Irineu Muniz, vice-diretor da escola municipal João Afro, na Vila Princesa, a proposta é válida. “As peças que chegaram aqui foram do Palco Giratório, ano passado e esse ano. A recepção dos alunos é boa e sempre as apresentações são novidade para eles", completa.
Quem também aprovou a iniciativa foi o pequeno Vítor Daniel, de 10 anos. "Quando eu fiquei sabendo que ia ter o teatro, avisei meu amigo João. Ele foi se arrumar e ainda chamou mais gente", conta o empolgado espectador, afirmando já ter visto palhaços antes, mas a primeira peça que assistiu foi no espetáculo "La Perseguida", na instituição.
“É sempre muito bom poder proporcionar essa experiência à população. Esta foi uma edição diferente e nós já percebemos logo na abertura, quando aproximadamente 5 mil pessoas prestigiaram”, afirma o coordenador de Cultura do Sesc Rondônia, Fabiano Barros.
Maria Aparecida, 42, é paciente da Casa de Apoio ao Hospital do Câncer de Barretos, em Porto Velho, e conta que esta foi sua primeira vez no teatro, onde foi acompanhada por um grupo do local. “Foi bastante divertido. Achei a peça muito engraçada e voltei em outras apresentações”, comenta.
Maria Flor, 5 anos, assistiu “A pereira da tia Miséria”, na abertura do festival, e diz que adorou o espetáculo pelas músicas e palhaçadas. “Eu gostei de ver os atores na perna de pau, mas tenho medo de andar. Queria ter um cachorro bem grande igual a esse”, declarou a pequena espectadora.
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Texto e fotos: Folk Produções